sexta-feira, 13 de março de 2009

Começo num pranto exultante de pretensão, deliciado em saber que não deixa e jamais deixará de ser lágrima, choro, dor pois não cabe nem agora nem amanhã, coube apenas nos segundos que preveram este escrito. Ah pranto maldito, enlouquecido que põe-me no chão, sob o chão, no ar, a voar, nas estrelas na poeira do universo e na lua e em todo vento, no mundo que se move ao meu redor, me respira para dentro e fora dele, me eriça os peitos e pêlos, me faz desejar virar-me do avesso. Fui à noite clamar mais um amor, uivei para lua fazendo mais uma vez meu feitiço-pedido ao cosmo, ao Criador, ao mundo, aos espíritos, aos demônios e aos santos, um clamor sincero que desespera por alguém para sermos um só. Uivei para a noite pedindo alguém, pedindo para que chegue e não pude imaiginar como ele seria, quando seria, nem por quê seria, e se eu mesmo seria esse amor, não pude nada... Nunca posso, nunca consigo vê-lo e entendi meu por quê, e esse conhecimento me espalhou até onde eu podia enxergar. Senti-me como se transasse com Deus, e a vergonha dessa sensação quase calou meu pensamento no momento e minhas palavras no agora, mas o torpor falou tão mais forte, mais pesado, éramos um só, o vento, a noite, os desgraçados da rua, as santas em suas casas, os traidores e os traídos e os inocentes e culpados. Tento fingir agora o prazer do sufocar-se em angústia plena do aprender a sentir de verdade, não fingir, não consigo mais, tão longe estou dos meus personagens sozinhos e carentes que sinto prazer com minha solidão, sinto desejo por quem ainda não conheci como nunca antes, antes eu ansiava, tudo era ansia e a vida era uma ansiosidade em acabá-la logo, sentindo, vivendo, vivo vislumbrei por poucos segundos o que pode ser um amor de verdade, o que pode fazer com minhas idéias e meu ser amar... E essa solidão explodiu de fora e dentro e dentro e fora para dentro e para fora num transbordar-se em si mesmo; um pequeno fragmento do que é me fez querer mais e mais em felicidade tênue que dividia seu espaço no meu humor com um sangrar em não ter e um beijo que não vi, não imaginei, um toque que nao sonhei, olhos que não sei a cor, palavras da qual não faço idéia, uma existência que desconheço, a existência do meu amor, do meu alguém de quem serei pertence, e ele meu e eu dele e nós de nós mesmos sendo não mais nós sendo nem sequer um, sendo, amor, puro, inconsequente pois não medi suas consequencias naquele segundo, me envolvi, fui abraçado fortemente pelo próprio amor em sua plena veracidade, sim, ele me abraçou, tocou-me cada pedaço de pele e cabelo e fez meus olhos apertarem e soprarem a fumaça pedindo por ele vir em carne, em osso e dizeres. Mas eu não precisei da sua pele pela primeira vez, a única. Seu ser me sobrepôs, subjulgou qualquer figura e conceito de antes para gritar ao meu corpo, é isso que sou, esse é meu abraço, esses são meus beijos, o Universo me beijou e pude transar com Deus... Transei com Deus enquanto a fumaça do meu cigarro cintilava pelo ar escrevendo no ar sem significar nada por segundos que aquele afago em dor era amar. Amar. Amar. E por falar com o Universo, pedir e sentir para ele esta carne que em algum lugar pode me ouvir, não fiz-me triste, não fiz-me nada, deixei-me levar pela fumaça e o vento e as nuvens e as nuvens que saiam de minha boca e a brisa e o vento na copa das árvores, não deixei-me levar, fui levado
...tateio o ar olhando atento afoito aflito a ponta dos meus dedos a brincar com o ar procurando essa sensação denovo, mas agora ela é minha, não preciso procurá-la mais.

Amei você. Amei você! Por uns curtos segundos, amei você e pela única vez até hoje digo que foi de verdade, foi real. E não sei quem é você. Mas o amei. Tentei achá-lo denovo, e meus juízos não deixaram mais, me disseram que alguém nenhum me faria sentir isso denovo a não ser a Lua e os céus e o vento e Deus; mas amei um alguém, um qualquer. Não bebi do veneno doce que mata aos poucos do amor ideal que nunca chega e nem se completa apenas para em sonho manter-se perfeito, de tirar o folego por não existir aquém dos sonhos; não perdi o folêgo. Ganhei folêgo, fui respirado pelo ar, o respirei, fui ar. E mesmo me afirmando que você não me dará isso em pele, sei que não estou preparado para você, para amá-lo, nunca estarei; só estou certo em certeza profunda que o amei de verdade, hoje, a alguns segundos atrás. Em pele, em ar, em ser, em alma, o espero sem esperar mais tanto assim, pois tê-lo amado me fez ver que nunca o esperei, nem sempre soube que um dia chegaria, nada disso: queria aprender a amar e vi que não se aprende, não são conceitos, apenas se sente. E eu senti. Senti o seu amor por mim por um curto tempo, de onde quer que você esteja, obrigado. Obrigado eternamente obrigado. E termino dizendo que o pranto ainda mantem-se querendo ser chorado mas não consegue, pois seu motivo em emocionar já se foi, e explicá-lo aqui ou tentar lembrar e até falar sozinho sobre não me faz sentir denovo, já foi, e único, será, para sempre.

Até que a pele me encontre conjugando paliativo com realidade.

levo-me demais, e demais que quero deixar-me levar, e ser levado é levar de alguma forma essa vida.

Um arrepio leva o medo de não ter mudado nada e os dedos vão percorrendo letras tentando se procurar ou mesmo se achar, quem sabe ser achado. O demônio podia levar minha alma para um lugar aonde eu pudesse me fazer doer sem ter culpa, sujar sem ter que limpar amanhã, comer até aonde um até não cabe, beber enquanto o tempo existir, sofrer sem me cansar pois de sofrer todo mundo sabe, felicidade é divina, e tem de ser alcançada; para sentir-me só e dolorido assim, apenas preciso parar, e disso entendo bem. Estagnado, olho ao redor e não há nada além da dor e uma certa comodidade rotineira em fingir sorrisos. E dizem que a vida tem de ser assim, isso, resumir-se assim: viva como se fosse única, cada dia o último, o máximo de alegria que seu coração puder aguentar. E ele nunca aguenta o bastante, e nunca há o bastante para sácia-lo.