domingo, 4 de setembro de 2011

Dias que são brim ou purpura tem vezes cinza e até ocre. Normais, alegres, sem qualquer graça e sem qualquer coisa, apenas dias. Horas e minutos são consequências de estar, sorrisos bobos e inocentes, gritos enterrados na mesmice, dores sem nada de pele e poros e corpos, dores apenas. Aliás, dores, ah sim, dores inesgotavéis. Dias sem catálogo, sem rótulo, dias que sim tem de tudo um pouco e não se sabe ao seu fim o que pensar: bom ou ruim? Dias que nunca chegam a ser noites, jamais, são dias, sempre serão dias. Não se pensa, e quando o faz, mesmo purpura, não faz assim tanto brilho nos olhos. Não fazem reluzir os olhos. Mesmo tão purpuras como são... Momentos? Não. Eles não são dias. Momentos são classificados, e guardados. As vinte e quatro chances horárias para ser feliz, ser triste, ser nada, são na verdade tudo. Tudo... Todos os tipos... E o mais triste fim de um dia que chegou, despertou, aconteceu, e dormiu sempre será a teimosia do destino em nos dar a escolha todo o tempo, o tempo todo. Afinal, eu queria acordar brim, permanecer brim, e dormir brim, para amanhã acordar purpura, existir purpura e dormir purpura, como na exatidão do por do sol e na certeza do seu nascer. Eu invejo as horas e a sua congruência clara, não saber o que será do meu dia, não ter o poder sobre o meu dia, ter que decidir o caminho dourado, escapar dos becos calados, não. Não... Eu invejo o relógio e sua exatidão precisa. Eu queria ser isso apenas, e como as estações viver a merce da lua e do sol e da terra. Mas não. Eu vivo a minha sombra... E sempre, tudo, todos os enlaces, todos os sonhos, todos os risos, todos os choros, todos os dias, eu me canso de ser feliz. E me canso de ser tirste. E me canso de ser nada. Me canso de escolher, queria saber a escolha ao acordar e ter que vive-la forçosamente para não me cansar de dias bem ou mal trilhados. Imagine saber tudo! Segundas tristes, terças amenas, quartas alegres, quintas exuberantes, sextas pensativas, sabados doloridos e domingos no nada. Pode imaginar como seria mais fácil se todos fossem assim? Todos numa malha astral... Sim, eu me cansaria da mesma forma. Porém estaria totalmente isento da terrível consciencia de ter escolhido como ser feliz ou triste neste segundo. E o fim dessa culpa jamais me cansaria...