domingo, 18 de janeiro de 2009

Um devaneio simples me leva
perco as rédeas de qualquer razão
não quero me dar por si
Desisti de ser encontrado
não vou parar de andar em círculos
só para não ser mais um quadrado
Na verdade sou sem formas, desinformado
por opção, nada me interessa além de
um leve suspiro.
Sou tão assim, acostumado nos mistérios e de caso feito com palavras que deixo tudo a entender mas adimito que não se entende nada do que digo; pairo no ar de uma expressão dada ao horizonte, refletindo algo... irreflexível.
Um silêncio dividido sem desconforto alastrou no peito o desejo de eternizar o notório momento aonde nada nem tudo eram necessários ou mesmo o bastante...
Enquanto escrevo poesias
não sei o que acontece
além de sentires sob
minucia momentânea.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Hotel Rota 66

E observava aflito dia após dia a pequena fachada desconhecida . Ladrilhos brancos tão limpos, dois grandes vidros grossos que permitiam apenas o vislumbre da silhueta, essa jamais aparecia. Ninguém nunca aparecia As duas portas com corriqueiras maçanetas redondas de madeira também eram do mesmo vidro. Seria fumê? Não era preto, areia, arenoso, transparente mas embaçado nada dizia sobre o que havia atrás. Recordava-se de um encontro marcado fronte a saída da garagem, na via expressa, do outro lado, frustrado. Não encontrou ninguém esse dia, ligou diversas vezes mas ninguém o atendeu. Os ladrilhos sempre tão brancos... Nada comum para aquela área de imovéis. Tudo era velho, sujo e gasto pelo tempo, ultrapassado em estilo, dando um toque de cidade velha aos arredores. E o letreiro impecável, mantido assim sem sombra de dúvidas; havia cuidado naquele prédio, e uma cautela demasiada para um réles hotel em frente a um terminal rodoviário. A placa dizia ROTA 66 em vermelho e preto. Mas não eram portas de correr, e nunca estavam abertas, e não tinha nenhum telefone para contato. Sentado no banco a esperar seu ônibus passar foi sendo empurrado lentamente num profundo abismo de curiosidade que o consumia sem que ele desse conta. Sua vida miserável aos olhos de Deus parecia ansiar pelo maldito segredo que a agradável e medíocre arquitetura asseada demais escondia atrás dos grossos vidros. Não sabia, e o fato de não saber simplesmente o fascinava... Podia criar todas as hipóteses que pudesse para o estranho local. Portão de carros nos fundos, do outro lado da avenida, portanto grande demais.Com a mesma placa vertical. Já havia caminhado pela marginal naquela saída dos fundos, sentado ali em sua calçada. Seriam mesmo quartos que preenchiam seu particular mistério? Quem conseguia hospedar-se no Hotel Rota 66? Um amigo do passado um dia disse estar ali, foi o que lhe disse. Será? Não podia ter certeza. O mais engraçado foi que o amigo combinou por descaso do acaso naquele lugar. Não o viu ali, nem dentro nem fora, aquele dia apenas foi esquecido nas ruas, sozinho, esperando. Como continuava a esperar agora, fitando, aguardando qualquer tipo de sinal, uma pista insólita que levasse seus pervertidos pesadelos a esfregarem-se naqueles ladrilhos brancos, tangenciá-los. Não havia número para ligar nem recepcionista nem portas convidativas nem a coragem de punhos fechados a bater incesantemente no vidro nem um breve telefonema ao auxílio a lista. Desejava saber que tipo de crime tão limpo, agradável e impecável, ocorria sob sua fachada sóbria... Ainda sentado, mais um dia, aguardando não apenas seu transporte mas esperando qualquer coisa, que o ônibus invadisse a plataforma e esmagasse seu banco familiar e ele mesmo, qualquer coisa. Esperando. Notou algo azul e desentendeu-se com o mundo, era um azul brilhante, brilhante demais. Um tipo alto, forte, pareceu loiro, vindo do nada o arrancando da distração dos transeuntes enfadados na estação abarrotada de gente que as pressas ia e vinha. Do outro lado da grade, em frente ao Rota 66, alguém entrara, e sobrou apenas o esfumaçado de sua camisa royal por detrás do vidro sumindo no nada, uma chave. Ele tinha uma chave, e abriu a porta sob a placa, sim ele abriu, entrou, com a chave, não se sabe vindo de onde, esquerda, direita, não vi. Eu não consegui ver nada, mas algo pareceu-me, só pode ter me cutucado para no momento exato de vê-lo entrando, é, ele entrou no Rota 66 . É, entrou, ali, no Rota 66, ele... ele entrou, de azul, entrou. No Rota 66, no Hotel Rota 66

domingo, 4 de janeiro de 2009

Sou a vidraça por onde você se atira
as árvores que enfraquecem a queda
e o transeunte atravessando a rua, fugindo do acumulo de gente.
Em tudo que escrevo, um desespero
descrente quer ser entendido, mas
a objetividade cala o medo
de não te encontrar.
Em que lugar vou encontrar o porto que nunca vi em minhas memórias?
Qual será o gosto da maresia de tato com a madeira a observar o fim do mar?
Para trás ou para frente, cabelos que não tive, serão acarinhados pelo vento?
Que corpo acompanhara a tez fina, morna e cúmplice da mão que segurarei?
Sob quais olhos poderei ser eu, escancarar porões, sorrir meus gritos?
Quando vou querer dias e não atos, meses e não palavras, a vida e não algo?
Como saberei que meus pés vão tocar músicas que não ouvi?
Aonde sentirei que a peça chave já está encaixada a mim?