domingo, 2 de dezembro de 2007

Ser.

Observo meus braços, mãos, dedos, unhas, pernas, pelos, rosto, corpo e não os entendo... Tão feios, desengonçados, estranhos, e tão distantes dos referenciais que temos de beleza, que podemos inventar de perfeição, não humana, mais imaginativa... Pense em cores se difundindo numa ventania em papel branco de um arco íris que se misturasse, cruzasse, serpenteasse e se transforme em tudo que você imaginar... Isso é seu. Cada um imaginou algo próprio. Quando olho para dentro, não vejo limites para estar na China e em um segundo voltar para a janela do meu quarto; correr para um beijo que me emocionou e estacionar na visão da pessoa que amo simplesmente sorrindo para mim. Depois estou dirigindo meu carro solto pela estrada sem fim, sem uma meta ou sem uma direção, posso sentir o vento nos meus cabelos, e as rodas não tocam mais o chão mas sobem, deslizam pelo ar e rápido, tão rápido quanto a luz alcançam os planetas e as estrelas e o sol, o sol, dentro do sol, envolto de luz, no princípio você pode se ver, mas depois é apenas as ondulações de luz se misturando e reluzindo. Tudo isso em segundos. Mas volto, e me vejo, e o que vejo, é isso: uma caixa. Um limite. Um espaço definido. Uma distância que pode te deixar tocar isso e aquilo, ver ali e aqui, sentir assim ou assado. Tudo de dentro de um espaço físico de dois metros de visão. Mas e aquilo tudo que eu tinha segundos antes, aonde está tudo aquilo? Para onde foi que não posso te-lo aqui, nesse mundo fora dos meus olhos? Sonho com um mundo aonde a imaginação é ato, e não preparação, e acredito que após me cansar de tanta perfeição, vim para cá, brincar de imperfeito... Sonhos... Realidades... Suposições... Não sei. Mas o fim me deixa curioso, nunca o bastante para não me divertir com tudo isso, e morrer aos poucos ao ver que tantos não aproveitam tudo que nossas cabeças nos oferecem...

Um comentário:

Li Yu disse...

Eloqüente, mas não chega a ser surreal. É tão abstrato se imaginar na China e se materializar num beijo, ao passo que é um tanto virtual pensar em fim - de qualquer espécie, até da (tua) vida.

[bom texto!]