domingo, 14 de outubro de 2007

Cinema Americanóide

Vendo um filme típico americano hoje, me dei conta que o gosto por essa linha vigente de cinema no Brasil, para mim, é caracterizada por um gosto muito mais crítico que contemplativo. É evidente que alguns roteiros marcam nossas emoções por possuirem elementos de interesse próprio, como Vanilla Sky, Beleza Americana e Donnie Darko, que muito diferem do cinema hollywoodiano clássico. São histórias cativantes por deixarem seus pontos de vista políticos decantados pelo decorrer da história, dando espaço para que os personagens, diálogos, e o roteiro em si superarem as concepções políticas subliminares, presente nesses também, mas como eu disse, num meio muito mais decantado e secundário.
Tais gêneros de filme fazem uma desconstrução dos estereótipos americanos, dando chance para que o enredo, a fotografia, os personagens, os diálogos, as cenas em si, sejam o maior destaque e não a constante exaltação do meio de vida americano. Por mais que, mesmo nesses, uma analogia semiótica possa ser percebida por telespectadores mais atentos, essa ainda perde fronte ao eixo principal do filme, que não é exaltar, mas puramente contar uma história. Agora no caso de clássicos de popularidade, a previsibilidade e a exaltação dos valores capitalistas e totalmente visivel. Comédias aonde o mundo, ou seja, tudo que houver ao redor, irá conspirar para que algo de errado na vida de um americano, mas que no final os personagens principais, ícones típicos da sociedade americana, sempre se dão bem. O mesmo acontece em romances, por mais que fujam de uma linearidade nesse contexto, a vida e as ações das personagens são sempre invejáveis. E quando não o são, o doce destino ianque sempre faz tudo dar certo. Em filmes que procuram emplacar uma moral, essa moral sempre acaba caindo em algum conto clássico de ajude e será ajudado, e não ajude pois é a melhor coisa a se fazer. Sem comentar os poucos do circuito principal que se aventuram em terras distantes. Vendo Diamantes de Sangue estrelado pelo Leonardo di Caprio tais conceitos ficam claro. Sempre, quando se escolhe um enfoque para contar uma história, qual personagem a ser principal e seu drama, automaticamente você forma um ponto de vista sobre os outros personagens que será basicamente dado pelo protagonista. Nesse filme há uma guerra civil desmedida entre africanos contra o sistema e o poder militar do país que tenta conter a ação revolucionária. Em ambos arqueotipos, não há mocinhos, todos só querem matar. Em volta de uma situação caótica a ser explicada e passada como mascaradamente impossível de ser remediada, o clímax dramático do filme fica guardado para o momento aonde Leonardo, um vigarista, e a fotógrafa que não faz nada além de procurar sua história para retratar e não para ajudar, quase se beijam. Após mostrar os negros como animais em uma luta infindável, o próprio militarismo americano no país se corromper pelo diamante valiosissimo que é o eixo do filme todo (capitalismo). O retrato que fica da sociedade africana é de desordem, violência, e inocência. Enquanto as personagens americanas praticamente passeiam sobre o caos sem se contaminar por qualquer sentimento puramente explícito de compaixão com a situação. E esse é apenas mais um exemplo da supremacia americana veiculada em todos os meios de expressão atuais... Tenho consciência que esse não é um assunto realmente original, porém tantas vezes se esquece a importância de ao ver e gostar de um filme desse cunho, ter a consciência que o gosto realmente aparece na crítica; por ser uma visão tão absurda nasce em mim uma sensação de dividir os absurdos que a cultura atual faz com o mundo, e é feita pelos Estados Unidos da América....

3 comentários:

J.G.N. disse...

O mesmo acontece com o recém-lançado Tropa de Elite que, apesar de fazer uma contestação saudável do esteriótipo atrelado ao Batalhão de Operações Especiais, se utiliza de uma linguagem cômica para transmitir uma ideologia de extrema direita: "usuário é traficante" e "lugar de bandido é na cadeia".

Beleza Americana, feliz ou infelizmente, deu origem a uma série de produções da dramaturgia estadunidense que desconstróem o cidadão médio. O fruto mais evidente é a série Weeds, mas existem outros exemplos mais sutis, como Desperate Housewives. A priori, parece algo bom (desconstruir quase sempre é algo ótimo), entretanto, é difícil ver algum sentido em se observar ângulos diversos da classe média norte-americana escondendo a realidade absurda da exploração internacional que alimenta a crise dos excessos nos países desenvolvidos.

É isso.

Guilherme disse...

nossa..... comentário bom!

Guilherme disse...

concordo que no final das contas esconde "o angu mais fundo ainda"´, e realmente a desconstrução só é feita para que aja um pensamento contrário, eles fodem com tudo mas são infelizes, e até esse pensamento veículado por mim várias vezes também é comodista... ñ importa o q fazem com suas cabeças, mas sim a destruição cultural, pessoal, natural e em todos os campos no resto do mundo... Entendi teu ponto de vista, é como a poesia sobre a miséria que te emociona com a estética mas n te faz ter compaixão ou msm querer mudar algo pra ajudar.... concordo! beleza americana ainda é um filme preferido, mas preferidamente alienante agora, consciente de que só faz esquecer os problemas principais para acreditar em subterfúgios... fazer o que, os caras sabem enrolar e muito bem... mas~não tão bem assim se ñ jamais teriamos falado disso dessa forma... ah, comentei no teu blog... e só agora passou isso pela minha cabeça: será que ele vai clicar nesses comentários q ele já fez denovo e ler isso que escrevi pra ele?
en fim
te adimiro demais rapaz.