sábado, 6 de outubro de 2007

Falar sobre o que então.... Hoje, eu decidi tecer a respeito do amor. O amor é algo muito mais vivo em nossas lembranças, quando nos prostramos a dedicar momentos em torno de uma nostalgia gostosa e boa de se exercer relembrando daqueles que amamos, as coisas se tornam simplesmente boas e tranquilas. O amor em suma vive mais no nosso próprio intelecto do que dentro da realidade. Quando se está junto, esperamos atitudes da pessoa que imaginamos, interpretamos gestos simples como sendo feitos só para nós e para a nossa satisfação, agimos como achamos que a pessoa espera e do jeito que, em nossas mentes, a pessoa irá se sentir bem e grata por estar conosco. Então, basicamente, os pensamentos são todos circundados por um ambar pleno de felicidade em querer, almejar, e fazer crendo que para a pessoa, exclusivo dos pensamentos. Tudo, para a pessoa, em direção da pessoa, e isso que acaba resumindo nosso querer naqueles momentos, proporcionar para nos mesmo a satisfação de ver o outro satisfeito conosco. E não há nada que se compare a isso. Tudo, tudo mesmo, no decorrer de nossos dias e atos, sempre está visando o nosso bel estar. O nosso querer. Os nossos desejos. Mas a verdade pura e emocionante do amar é exatamente isso, querer algo e amar algo por simplesmente amar, por puramente querer fazer bem a pessoa. Assim, a felicidade nesse único momento que é amar fica restrita ao outro, pois só nos tornamos felizes se a pessoa está feliz, se a pessoa corresponde nossos atos de uma forma positiva, e não se nós, se o nosso egoísmo, corresponde de uma forma positiva. O ser se confunde com o outro ser, pois ser sempre é ser si mesmo, e quando se ama, o ser é querer ser o outro, mas não para viver a vida da pessoa e ter as coisas que ela tem, como uma inveja, é querer apenas observar, sorviver tudo que a pessoa diz, faz, pensa para você. Por que tudo quando se ama, é feito pela pessoa e não por você. Por mais que você sinta uma felicidade em sentir o amor, essa felicidade consiste basicamete em querer ver o bem da pessoa e não o seu. O "seu" passa para segundo plano, e você só espera, espera em uma angústia as vezes terrível de querer demais que a pessoa olhe para você com os mesmos olhos. Por que você quer tanto a pessoa por perto, dentro de você, que as coisas ao redor e os sinais que troca com ela não influem no que você sente. Você apenas sente. Sente e quer que a pessoa sinta o mesmo. Pois para você, lembrar, pensar, imaginar, conversar, tudo com a pessoa, é tão gratificante, que na realidade, por mais que você não transmita isso na ansia de querer que ela te ame como você a ama e não conseguir (pois o jeito de cada um amar sempre é particular), acabamos nesse torpor que é o amor, sendo de um jeito que as vezes parece hostil. É como uma frustração, dentro de você há tanto amor e tanto carinho para ser dividido, uma vontade tão pungente e edificante o ocupa em simplesmente querer amar, que você não consegue mostrar isso em palavras. Apenas espera. O olhar, o imaginar, o lembrar, todos, tudo com a pessoa, é uma espera doída, uma espera que não tem fim apenas de uma forma. Essa espera consiste olhar para a pessoa perto de você e quer muito que ela faça algo que você imagina mas que não sabe o que, que vai realmente concretizar o amor. É como se algo sempre estivesse faltando mesmo quando você já tem tudo que a pessoa poderia te demonstrar sendo amor. E esse algo que falta se revela quando ambos já não pensam mais no amor, um não fica apenas querendo mais, e outro se frustra por estar tão bem como está mas não suporta o jeito do outro de sempre querer; neste momento, o sentimento decanta em um nível brando de contemplação, não um observar sorvindo cada palavra como se fossem um canto, e nem um esquecer-se e entrar afundo numa relação, não, o amor real se revela quando tudo isso fica de lado para que apenas os corações se conectem, e as palavras demonstram que ambos estão simplesmente adorando tudo que está sendo falado, dito, trocado, partilhado, o sorriso internto fica latente em ambos corpos, e uma aúrea de intimidade envolve os dois como se conhecessem a séculos. No meu caso, nesses momentos, eu esquecia que amava e apenas achava perfeito o olhar, o sorriso, o jeito, as palavras, e ele, amava meu jeito de concordar, de sorrir, de apenas estar ali. Nenhum dos dois persistiam em se angustiar com o que viria depois, ou com o que deveria ter vindo, ou com o que estava acontecendo; as vontades, os sonhos, os conceitos davam lugar a plena sensação de estar com alguém que você gosta e ver que, se gosta ou não, nesses momentos não importa, pode ouvi-lo e ver que ele o escuta. Então nada mais importa. Embebido pelo momento de estar junto sem dar chance para a dúvida ou para a contemplação, você apenas relaxa, esquece de todo o resto, e realmente ama, por que esquece o que é amar para sentir... Amar é uma palavra, cheia de recheios e conceitos e medidas e reações esperadas e não esperadas, por isso limita o que é senti-lo; sempre está na essência de uma palavra uma forma, e quando você esquece a forma de amar, que você realmente ama... Você não espera, mas se satisfaz com o sorriso da pessoa, você não força uma idéia, mas a vê se transformar em palavra e realmente tocar a pessoa... Nesses momentos tudo se torna completo, e o amor realmente deslizam pelos corpos. Porém mais certo que esses momentos, só aqueles em que você está em silêncio... Quieto... E simplesmente não espera que a pessoa diga nada, e nem a pessoa espera algo de você, então vocês apenas se enchem de felicidade em estar juntos, lado a lado, ele ali e você ao lado, realmente envolvidos no amor, sem precisar dizer nada, sem se preocupar com nada... No começo de toda quietude pode haver alguma dúvida, mas se você realmente ama a pessoa, elas se perdem e dão espaço para um nada preenchido de felicidade, um hiato feliz que é saber que a pessoa está ali e você também. Os corpos nesses momentos que são os únicos a ficarem desejosos, querendo demais ter o outro abraçado, mas a mente sabe que não é isso que vai melhorar o momento, que apenas o estar junto já completa tudo.

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