sábado, 13 de outubro de 2007

Definição Científica do Popularmente Conhecido por 'Carão'.

(tudo iniciado por maiusculas, e com direito a aspas SIM)

Bem, melhor começar por 'bem' que já acontece dando aquele ar de intelectual mas totalmente insultante a qualquer contraposição, bem, novamente, definir o divulgado carão dos dias de hoje é algo realmente supremo. A música o invoca, arranca de dentro de si uma superioridade e um nojo inexplicáveis. As roupas estão todas fora de moda. Tudo cópia. Os cabelos desarrumadérrimos, testas suadas, rodelas terríveis por debaixo dos braços, os corpinhos tão trabalhadinhos e tentando uma perfeição mascarada por uma doce cobertura de glacê a lá Louis, Armani, Dolce; pézinhos mal feitos e enrugados esncondidinhos em seus Pradas e as enfadonhas Guccis desfilandos pelos traseiros fartamente abrasileirados. A luz jamais o cega, jamais, seus olhos brilham muito mais se você realmente o é. Dancinhas totalmente absurdas e envergonhadas-robotizadas. Eles sempre olham para os lados com um olhar clássico de Gazela fugindo do predador. Sua periférica grava alguém fazendo careta ao tragar seu mentolado Benson. Pose é uma coisa demodé e péssima, carão sim é a única verdade. Careta?! Fumaça nos olhos? Fim da comunicação e aquela parada tenebrosa de averiguação do ambiente que, por mais que tente escorregar por cima das pessoas mas sempre caí em algum ponto, algo sempre chama a atenção dessas pessoas. Seja um babado, seja um coque, seja um grito, seja um lunático descendo até o chão atrarracado a amiga num misto de lambada e bebedeira, seja o copo que o lembra que você está com sede, sempre, sempre SEMPRE, eles perdem o foco por alguma coisa. Aí depois de já ter botado tudo água a baixo, se empenham da maior sorte de biquinhos totalmente insólitos e sem sustância virando a cara para sua rodinha e procurando uma sociabilização imediata, para dizer 'ai que fulana ridícula'. Queridos, beiço seguido de comentário não é beiço, é inveja. Beiço seguido de qualquer coisa é atemporal, out, caído, fake, inútil. Aí finalmente, alguém chega para comprovar minha teoria do 'carão' (eu por exemplo). Copo, ou não em uma mão, cigarro na outra, mas nenhum dos dois realmente estão lá, você não os vê. Você jamais olha para as pessoas, verifica como eles estão, elas SEMPRE estão do jeitinho que eu descrevi. Mas você, aliás, eu não. Posso preencher algumas das caracteristicas, mas o carão e de quem não se atém a esses meros detalhes, não comenta, não fala, se fala, fala sobre a política de comércio externo da Tailândia ou sobre o último desfile ridículo (sempre) da Donatella, ou qualquer outra fornecedora, veja bem, fornecedora e apenas nada de idolatrias modistas, isso é para eles. A moda só produz algum alimento, e não nós que nos alimentamos de moda. Enfim, o olhar é curto e não avalia nada pois já sabe as notas que dar, de -0.25 até um 4.5. Você, eu, jamais se encaixa no 10, jamais se encaixa em uma nota, eles competem, você pisa por cima. Em camêra lenta, um giro de 180 graus passa por todos os seres dali sem JAMAIS se ater a um, a boca levemente se abre em um beijo falsérrimo, e os dentes serrados marcam seu maxilar. Ao fim do percurso pejorativo, os olhos piscam lentamente, o rosto volta para a companhia e um sorriso com o canto esquerdo já esboça "tudo está uma merda nesse mesmo lugar de sempre como sempre, e eu, você não sei por que apenas me acompanha, estamos fabulosos", uso da palavra tão brega por que nesse momento, você tem que envolver sua companhia nessa recíproca do ódio mortal por gente. De costas, sempre e por todo o sempre, você jamais fixa seus olhos em um ponto, as vezes ri escarnosamente com sua companhia, de nada, apenas para compor o visual de "você está me olhando? eu nem estou aqui!". Nesse momento então que o rictus deve se formar e não largar por nada neste mundo de seus lábios, e bate o pé esquerdo sobre o chão enquanto a cintura lentamente desliza para a direita. Um trago lento e marcado com a música. Um pouco de ombros. Um pouco de pernas. Nada de mãos, apenas quando num surto músical realmente raro em uma balada, você ergue o braço e pede por mais três vezes apenas para o dj. O semblante? Não preciso dizer nada. Congelado. Os olhos evitando qualquer contato não por querer evitar, mas simplesmente por que não há ninguém ali. Viu a Cicareli? Repete o movimento. Dentes cerrados, lábios semi abertos, olhada curta, sorriso sarcástico para o acompanhante, e só. De costas para todos. Vai se desclocar, antes para, traga, vira-se, e desliza por dentre as pessoas, jamais olhe para o lado, para cima, para baixo, ou para trás para conversar com o amigo, você está andando, não digo desfilando pois é total demodé, quem desfila é modela e na passarela, o resto é cópia. Os olhos ficam fixos num ponto vazio no horizonte, não na porta pois parecerá que está aflito, apenas vazio, compenetrado, direto, imutável. Reencosta sob o bar, e faz apenas uma vez o olhar seguido dos passos já definidos, depois se volta para sua companhia e fale sobre algo que jamais tenha a ver com tudo aquilo. Se não há companhia, você olha para sua bebida, seu cigarro e de momentos e momentos encaraza fuziladamente alguém sem sorrir nem expressar ninguém, de preferência o que ali no meio pareça merecer o 4.5. Mesmo se não for nele, é necessário asssutar a pessoa "nossa ele está me olhando" o rosto esperado no outro é este. Vá embora cedo, mas deixe claro que está indo embora, olhe no relógio, ou depois de uma sequência incrível de dança pare, e faça a melhor cara de "que música ridícula" e vá embora. Fim, carão de verdade é isso. O resto é tentativa.

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