quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Intelectualóides

Era dito sábio pelos cartéis de cabeças aprimazadas com um certo interesse por saberes variados. Ela era o que mais lera de todas as coisas entre todos eles. Jamais seu ponto de vista realmete aceitou a idéia franca e promissora que todos sempre acabavam relatando as mesmas estruturas em conjuntos diferentes; era um partidário, como todo bom entendedor. Defendia com fervor subliminar seus valores retirados de livros e livros sobre sociedades mortas e ideais obscuros. Quanto mais amava o que aprendia, mais se envolvia nas teias ignobéis da dedicação exasperada a algo que infindavelmente o leva ao ponto aonde começou. Mas para ele não, como criança ávida sempre que conseguia dominar uma teoria com seu vocabulário vasto, sentia-se inflado e entorpecido no frocitante prazer efêmero das letras. Ah ele sentia... Datava-se único por articular tantas escolas e métodos e ismos e estruturas em uma só mente. Quando conversava, afirmava que era apenas a nível contemplativo, mas em seu ser pouco oculto, revelava-se logo um retórico invertebrado. Afinal quem discute, assume sim seu próprio caráter taxativo, e como ele descutia. Despendia toda sua gama de palavreados prolixos e insólitos para tentar confundir a pessoa e faze-la desistir, nivelando seus próprios conceitos sólidos para todas as entrelinhas da conversa, mas eles estavam ali, feito estruturas firmes de um prédio irreal. Alternava em várias facetas de um mesmo tópico, subentendia-se que para ele tratavam todas de um só assunto e esse assunto consistia em não ser um assunto; os promissores sempre acabavam de uma forma ou outra dizendo isso. Mas nem eles mesmos acreditavam nisso, pungenciavam em suas obras manias e idolatrias inevitáveis por outros e outros que vieram antes deles os calcando a escrever também. Eram produtores de relatos, recortes e retalhos da malha interminável de coisas já ditas, diferentes de quem cria, estavam sempre com 'algo na cabeça' que egendravam seus escritos, e esse algo era sempre uma nota ou frase marcante, que como em mocinhas virgens, os fizeram molhar a calcinha de excitação com tanto peso teórico. Quanto mais denso e impenetrável fosse os conteúdos, mais carregado de analogias e indiossincrasias com o mundo, e nada que realmente fosse concebido do real, mais suas calcinhas ávidas por seu 'pai da literatura' como assim intitulam tantos, molhadinhas ficavam. Entre todos os emranhandos cultos de uma mente ocupada por tantas cargas de teoria, tinha sempre no ar de seus feitos uma superioridade e uma certeza confiante do que escrevia. Fazia o máximo para não contradizer seus próprios valores, mas a forma como levava sua vida e encarava uma conversa, denotavam todo o seu embuido ser de ser o ser já sido de outro por não saber que ser ele seria sendo ele mesmo. Sua existência encefálica consiste num agrupado crítico sobre tantas coisas e outro seleto nicho de sistemáticas firmes de opnião. Ah sim, para bom entendedor, apenas a verdade basta. E a verdade sempre é a sua, a nossa, nunca a do outro. Eu por esporte sempre fui um contraditório, negava qualquer coisa que ouvisse pois tudo pode parecer certo ou errado dependendo apenas com que olhos e para aonde os aponta. Numa dessas ficava claro que me contradizia, repetia as mesmas ferramentas de desconstrução, mas em nenhum momento levantei bandeira pensando "pensem assim" ou mesmo a bandeira do "você não consegue pensar assim". Encarava tudo como um jogo de palavras, aonde o jogador mais atento sempre encontra falhas na teoria do outro e as joga sobre seu rosto, enquanto suprime o que ele diz a meros 'ditos', o articulador sem saber como e por quê escapar do jogo, sempre reafirma suas respostas e ideais empunhando-se da mais variada coleção de contundentes para defender sim o ponto de vista que sim possui sobre tais assuntos. Eu não. Eu ganhava o jogo, pois nunca entrava no jogo, só defendia a contrapartida, a recusa, a retórica, o relativismo, e se esses eram meus partidos, longe disso! Só queria ver o gatinho se enrolando com o próprio novelo de lã e fugindo cansado de tanto se enroscar, letras simbolizam e o que é simbólico jamais pode ser verdadeiro em suma, portanto, me digam breves leitores, que boa teoria não possui seus cacoetes?

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